sexta-feira, 5 de julho de 2013

Em defesa do Hospital Miguel Bombarda.


Pela Reprovação Global do projecto de Loteamento Hospital Miguel Bombarda – nº 14/URB/2013, em  Consulta e Discussão Pública de 1 a 12 de Julho, assim como dos projectos de Loteamento para os Hospitais de S. José, Sta Marta e Capuchos.


Por pequeno aviso publicado num jornal, soubemos que iriam para consulta e discussão pública entre 1 e 12 de Julho no edifício do Campo Grande, 1F, quatro Projectos de Loteamento (venda mais facilitada, por lote) para os Hospitais Miguel Bombarda, S. José, Sta Marta e Capuchos, que deram entrada na Câmara Municipal de Lisboa em meados de Junho, para aprovação. Durante a consulta desses volumosos projectos não é permitido tirar fotocópias ou fotografias, dificultando seriamente a interpretação, e obrigando a demorada cópia manual das partes mais relevantes.
Pela quantidade e importância de edifícios que os projectos prevêm demolir ou transformar, estamos desde logo em presença de uma das maiores intervenções urbanísticas de sempre realizadas na zona histórica de Lisboa. Os projectos foram apresentados pela Estamo, empresa do Ministério das Finanças, que há uns anos “comprou” esses hospitais, pedindo empréstimos cujo montante serviu para encapotar o défice da Saúde …


Descrevemos a seguir as principais intervenções contidas nesses projectos:

- Hospital Miguel Bombarda

 Seria mantido e restaurado o Pavilhão de Segurança e o pequeno Laboratório /Morgue, destinado a fins culturais não especificados (não se refere o singular Museu existente, único na Península …); também mantido o outro pequeno edifício classificado, de Interesse Publico, o Balneário D. Maria II.

O Edifício Principal, o notável e histórico Convento da Congregação da Missão de S. Vicente de Paulo (1720-1740), que resistiu sem danos ao terramoto de 1755, onde se instalou em 1848 o primeiro hospital psiquiátrico do país, e que se conserva na quase totalidade sem alterações (ao contrário do que afirma em sucessivos erros históricos grosseiros o dito projecto, ignorando dezenas de documentos e as plantas de 1835 existentes no Arquivo Militar) será destinado a Hotel, com parque subterrâneo e demolição dos interiores, à excepção das fachadas, da Igreja, do salão nobre e do gabinete onde o Prof. Miguel Bombarda foi assassinado em 1910, sendo integrado no Hotel o já referido Balneário…

Todos os outros edifícios seriam totalmente demolidos, apesar do seu excepcional valor histórico e arquitectónico, apesar de todo o Hospital ser Zona Especial de Proteção (Portaria nº 1176/2010 de 24 de Dezembro) e apesar de ter sido proposta a sua classificação em Março último, em Candidatura apresentada à Direção Geral do Património, sustentada em investigação irrefutável, subscrita pelas prestigiadas Sociedades de Psiquiatria, de Neurologia, de Arte Terapia, de Arte Outsider, e pelos dois mais distintos historiadores de arte do país, Prof. Raquel Henriques da Silva e Prof. Vítor Serrão.

Assim, as demolições seriam quase totais, abrangendo os interiores históricos do Convento (que resistiu ao terramoto mas não resistiria ao vandalismo que assola Lisboa), o Edifício de Enfermarias em poste telefónico (de 1885-1894), dos primeiros do mundo, de um piso baseado em Esquirol e de racionalismo pré modernista, rodeado de jardins, do arquitecto José Maria Nepomuceno, o Edifício de Enfermarias em U (de 1900), vanguardista dos primeiros em betão, a Cozinha (de 1904), com tecto futurista em ferro, o enorme, elegante e raríssimo Telheiro, para o Passeio dos Doentes (1894), o Edifício das Oficinas para doentes, os painéis de 165 azulejos diferentes criados por doentes, o poço e o tanque da Quinta de Rilhafoles, anteriores ao convento, com cerca de 500 anos, etc.



O Balneário, inaugurado pela rainha D. Maria II em 1853, considerado na época e ainda hoje o melhor da Europa, a primeira construção do país destinada a Psiquiatria, que conserva grande parte dos equipamentos … integrado num reles Hotel sem identidade … que conterá também o gabinete do Prof. Bombarda, o mais significativo testemunho material da implantação da República, e constituirá uma infâmia para a Congregação da Missão de S. Vicente de Paulo e para a Família Vicentina.





O que se pretende é escandaloso, representa um Grave Atentado contra a Cultura Portuguesa e Europeia, destruindo edifícios de excepcional valor histórico e arquitectónico, em termos nacionais e internacionais, e apagando a Memória, da religiosidade, da Ciência e das suas inovações e mestres, da vivência dos Doentes Mentais e da sua criatividade artística e sofrimento.

E para quê? Para um Hotel sem identidade, para 4 lotes/prédios paralelos, outro prédio duplo junto à Gomes Freire, com  seis torres de 8 pisos (que depois subirão para 12, como é costume …), num condomínio desenquadrado e hostil à zona, por onde será rasgada uma incrível e perigosa Rua para viaturas, em zig zag com 6 curvas, 2 delas em cotovelo, que passará por baixo de 4 prédios e irá do Conde Redondo até à Gomes Freire … um pavor!


O que propomos? 

Dizer Não à destruição da Cultura e da Identidade de Lisboa, e criar no belo espaço e edifícios do ex Hospital Miguel Bombarda, praticamente sem obras, um Pólo Cultural de excelência, revitalizador da zona e da cidade, dinâmico e rentável, aberto aos moradores, atração para turistas e visitantes (com retoma do eléctrico Martim Moniz-Gomes Freire), que inclua um Museu alargado dedicado à Arte de Doentes e de Autodidactas de todo o país, e à História da Psiquiatria e das Ciências da Mente, desde logo com os integrais arquivos médico e forense do Hospital, dos melhores da Europa, as coleções de arte e de fotografia, com mais de 12000 exemplares (dos artistas Jaime Fernandes, José Gomes, Valentim, do poeta Ângelo de Lima, e de tantos outros), um centro de investigação, amplas exposições permanente (uma delas dedicada à Congregação da Missão) e temporárias, conferências e workshops, um ateliê de artes plásticas, espectáculos de música, teatro e bailado, etc.

No Hospital de S. José, memória do Hospital de Todos-os-Santos e símbolo da Medicina Portuguesa, não se indica o destino do notável edifício, ex Colégio dos Jesuítas (deveria ser um Museu da Saúde), dois novos prédios de 6 pisos prejudicam a leitura do Colégio/Hospital, e tapam o Torreão de Sant’Ana, o maior da muralha Fernandina, de 1383. E sem justificação é demolido o notável edifício do Instituto de Medicina Legal, do arq. Leonel Gaia. No Hospital dos Capuchos só o estritamente classificado é mantido, e eleva-se um silo de estacionamento no horizonte da Igreja. E  no Hospital de Sta Marta com a sua bela Igreja e Claustros, instala-se outro Hotel, com demolição do edifício da Cardiologia e construção de novos prédios. Em tudo, parece quererem esquecer a História da Assistência, além de ser questionável o encerramento de todos os hospitais do centro da cidade.

Sem prejuízo de outras ações, apelamos aos cidadãos consciente para exercerem os seus direitos na Discussão, sem medo, e a solicitaram ao Sr. Presidente da Câmara de Lisboa, Dr. António Costa, até dia 12, a REPROVAÇÃO destes projectos, que terá de ser efectuada em separado por Hospital e em impresso ou termos específicos.


Comissão para a Salvaguarda do Património

contactar  933220913 / 217585085 / reginacarr@hotmail.com