sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Na câmara, use adesivo. Proteja-se.





Santana finta hierarquia "laranja" e propõe o seu mapa para Lisboa
Por Inês Boaventura

Vereador Victor Gonçalves e deputado António Prôa falam em "desrespeito" pelo partido. "Não usamos adesivo na câmara", reage Santana Lopes
Santana Lopes e outros quatro vereadores eleitos pelo PSD apresentaram ontem uma nova proposta para a reorganização administrativa de Lisboa, na qual prevêem 26 freguesias. Esta iniciativa, no dia em que o executivo iria votar o mapa com 24 freguesias, caiu mal dentro do partido "laranja", já que ignorava o entendimento selado pelo presidente da distrital social-democrata com o PS e que prevê uma solução substancialmente diferente.

A revelação de que não concordava com o mapa de Lisboa resultante desse acordo foi feita por Santana Lopes em plena reunião da Câmara de Lisboa e apanhou de surpresa o vereador Victor Gonçalves, que representou o PSD nas negociações mantidas nos últimos meses com o presidente da câmara, eleito pelo PS. Aliás, também António Costa desconhecia que ia ser apresentada uma proposta alternativa.

Aquilo que Santana Lopes propõe é que Lisboa passe a ter mais duas freguesias que as 24 previstas no acordo PS-PSD. Por vontade do ex-primeiro-ministro e vereador "laranja" em Lisboa, seriam então 26, incluindo duas novas: Oriente (que integraria uma área hoje pertencente ao município de Loures) e Telheiras. Em declarações aos jornalistas, o vereador disse que não podia deixar de defender a criação desses duas freguesias, porque a isso se comprometeu com os eleitores dessas zonas da cidade.

Mas as diferenças em relação à proposta com o carimbo da distrital de Lisboa do PSD são mais do que muitas. Por exemplo, Santana Lopes quer separar em várias freguesias aquilo que no mapa PS-PSD aparece junto: Sacramento, Mártires, São Nicolau e Madalena numa freguesia, Castelo, Santiago e Sé noutra, Santo Estevão e São Miguel (juntamente com São Vicente de Fora) numa outra e finalmente Santa Justa, Socorro e São Cristóvão e São Lourenço numa última. Na prática isto significaria que continuariam as disparidades populacionais que hoje existem, já que num extremo ficaria Santa Maria dos Olivais (com mais de 46 mil residentes) e noutro a freguesia resultante da união do Castelo, Santiago e Sé (com pouco mais de 2500 pessoas).

Santana Lopes também não se inibiu de separar em duas partes as freguesias do Lumiar (para dar origem à de Telheiras), Marvila, Beato e Santa Justa. Uma solução que tinha sido rejeitada por António Costa e pelos representantes designados pelo PSD para negociar com o socialista, para preservarem "a dimensão histórica e a identidade" dos locais.

Depois de negociações feitas em plena reunião camarária, Santana Lopes acabou por votar favoravelmente a proposta PS-PSD, que passou com o voto contra do PCP e a abstenção do CDS. Ainda assim, Santana Lopes quer que a sua ideia seja tida em conta, quando a reforma administrativa for objecto de discussão pública.

Tanto Victor Gonçalves como António Prôa, líder do PSD na Assembleia Municipal de Lisboa, criticaram Santana Lopes, acusando-o de "desrespeito" para com o partido e de ter apresentado a sua proposta fora de tempo e num local inadequado.

"Não usamos adesivo na câmara. Eu escolho o momento político que considero oportuno", reagiu Santana Lopes. O vereador também enviou um recado a António Costa por ter negociado com outros interlocutores do PSD: "O presidente é que quis ir para outras paragens e quando escolhemos uma viagem temos de pagar o bilhete."

(in Público).

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