«O tema da reabilitação urbana está na moda há oito anos; todos concordam na necessidade de se avançar com este tipio de intervenções, a única coisa que não entendo é porque é que tardamos em passar à acção»: palavras do antigo bastonário da Ordem dos Engenheiros, Fernando Santo, no seminário APEMIP.
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Ainda no seminário: «Não entendo porque é que tardamos em passar à acção».
1 comentário:
A resposta é simples, não há dinheiro para a reabilitação.
Os pequenos proprietários não a podem fazer, pelos motivos históricos que já são conhecidos de todos, agravados pelo "congelamento" da concessão de crédito por parte da banca.
Os governos (centrais, regionais e locais), os grandes responsáveis pela morte do mercado do arrendamento (em cumplicidade com os construtores e o sector financeiro), vão produzindo cartas de intenções, com muita teoria, mas pouca utilidade prática.
Somos talvez o país com uma das maiores produções legislativas em termos de ordenamento do território e reabilitação urbana, mas não só não pomos em prática nem 1% do que se pretende, como fazemos exactamente o contrário.
O Estado anda há 3 anos para reformular os caducos diplomas do RECRIA, REHABITA, SOLARH e RECRIPH. Se já antes, o IHRU e as Câmaras tinham de se endividar para pagar as comparticipações,e mesmo assim, era um processo demorado, o que não acontecerá agora que já não se conseguem endividar porque a fonte secou e a austeridade veio para ficar.
O destino de muitos prédios velhos será esperar pela morte dos seus inquilinos (os das rendas antigas), o que com sorte acontece antes de ruirem. Depois, depois logo se vê.
Felizmente que agora a causa ganhou novos aliados de peso, os construtores, já saturaram o mercado da construção, já não conseguem vender os milhões de fogos com que entupiram os suburbios do país, pelo que agora acordaram para a temática da reabilitação.
O problema é que se esvaziaram cidades já equipadas e infraestruturadas, para criar novas cidades, que tiveram de ser infraestruturadas e equipadas, gastando muitos milhões de euros ao país.
O problema é que se comprometeu a mobilidade das pessoas, porque agora 70/80% da população está agrilhoada a uma dívida muitas vezes superior ao valor de mercado da casa que lhe está associada.
O problema é que o próprio conceito de mobilidade ficou erradamente associado ao automóvel, pelo que o estado gastou milhares de milhoes de euros a fazer auto-estradas para devolver a mobilidade às pessoas ... de carro.
O problema é que as 300.000 pessoas que nos últimos 30 anos sairam de Lisboa para os concelhos limítrofes nunca mais voltarão à capital. O máximo que a CML poderá fazer é estancar a sangria e impedir que continuem a sair os cerca de 10.000 habitantes/ano, mas não o conseguirá com a cidade no estado em que está, suja, insegura, com os passeios ocupados pelos carros e com o espaço público desordenado e sem ser planeado para as pessoas.
É preciso investir na reabilitação urbana, juntando os proprietários, os inquilinos, estado, as empresas da fileira do imobiliário, os bancos.
É preciso estudar novas formas de financiamento e novas formas de parcerias, incluindo o pequeno proprietário, utilizar soluções financeiras criativas e inovadoras, explorando por exemplo, o potencial das energias renováveis.
É preciso forçar o estado a reprogramar os seus parcos recursos. Quanto dinheiro dos quadros comunitários não poderia ter sido canalizado para co-financiar operações de reabilitação do edificado público e privado e regeneração dos centros históricos, ao invés de se estar a financiar uma piscina, um pavilhão, uma biblioteca e etc... em cada freguesia do país, como se a população que por cá anda utilizasse esses equipamentos todos.
Fica aqui um desabafo.
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