sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Os castelinhos.





Obra isola castelinhos e gera atritos de fronteira
Telma Roque

foto Rodrigo Cabrita/global Imagens


A imagem é bizarra e não agrada aos moradores de Benfica, em Lisboa. As obras da CRIL deixaram os castelinhos enfiados numa ilha. Mas, à medida que os trabalhos avançam, adensam-se as dúvidas sobre quem vai gerir aquele espaço. A Amadora reclama-o.

"Aquele arranjo arquitectónico não dignifica, nem preserva a memória daquele espaço que diz muito às gentes de Benfica", argumenta ao JN Fausto Castelhano, da Universidade Intergeracional de Benfica, para quem as obras de prolongamento da CRIL vieram dar às Portas de Benfica um visual demasiado estranho. Tão estranho, diz, "que quem não conheça a história dos castelinhos não percebe o que fazem ali isolados.

As Portas de Benfica, que já foram um posto fronteiriço da Guarda Fiscal, e propriedade do Ministério das Finanças, antes de passarem para a posse da Câmara de Lisboa, estão no limite da fronteira com o município da Amadora. Aliás, a questão tem suscitado discussões entre as duas autarquias. A Amadora reclama o património como seu.

Gabriel Oliveira, vereador com o pelouro das Obras Públicas da Câmara da Amadora desabafou em tempos que a culpa é de quem fez a divisão do concelho em 1979. "Onde há barracas é a Amadora, onde não há barracas é nosso, ou seja, Lisboa", declarou.

O vereador garante, sem margem para dúvidas, que as Portas de Benfica estão na toponímia da Amadora e que ambos os castelinhos pertencem a este concelho, "ponto final parágrafo". Sobre o facto de num dos castelinhos (à esquerda na fotografia) funcionar um centro de informação com uma placa onde se pode ler "Junta de Freguesia de Benfica", Gabriel Oliveira justifica que também ele pode colocar duas ou três placas com o nome Amadora.

"As Portas de Benfica são propriedade da Câmara de Lisboa, que as cedeu, por protocolo, à Junta de Benfica", argumenta, por seu turno, Inês Drummond, presidente da Junta de Benfica.
Certo é que a Amadora não parece querer abrir mão daquele espaço. "Já recuperámos um dos castelinhos e só não fizemos o mesmo com o outro porque a Estradas de Portugal irá recuperá-los. Faz parte do contrato", explica o vereador da Amadora.

Para Fausto Castelhano, que sempre viveu em Benfica, as pretensões da Amadora são "absurdas". Domingos Estanislau, dirigente do clube de futebol local, reforça a ideia. "As Portas de Benfica, são e serão sempre de Lisboa. A história prova-o. "Era uma portas de entrada na cidade. As pessoas que entravam com mercadorias e pagavam uma taxa".

Sobre o aspecto que ganharam os castelinhos com o decorrer das obras da CRIL, frisa que a Estradas de Portugal poderia ter feito o mesmo que fez na Buraca, onde foi a obra foi feita em túnel, para não destruir uma parte do Aqueduto das Águas Livres. "Poderiam ter feito o mesmo nas Portas de Benfica", remata.

(in Jornal de Notícias).

5 comentários:

Alexa disse...

No "Retalhos de Bem-Fica" já tínhamos alertado em vão, há longos meses atrás, sobre este atentado às Portas de Benfica.

O que não podemos, de modo algum, aceitar, por todos os motivos históricos e mais alguns, é que os Castelinhos sejam pertença da Amadora...

http://retalhosdebemfica.blogspot.com/2010/10/castelinhos-das-portas-da-amadora.html


Abraço,
Alexandra.

Bic Laranja disse...

Esta agora é fácil. O marco miriamétrico 0 da E.N. 249 ficava (não sei se entretanto lhe deram sumiço) imediatamente atrás das portas fiscais. Naturalmente a E.N. 249 só havia de começar no limite de Lisboa.
Cumpts.

Alexa disse...

BIC - temos que lá ir verificar onde pára o marco... senão terá, misteriosamente, desaparecido aquando das obras ;)
Obrigada pela dica!

s disse...

parecem-me muito bem ali os 'castelinhos'. alguma vez faz sentido um tunel por causa de dois edificios? o arco de são bento também esta no meio da pç de espanha, as portas de benfica deixaram de servir a função de portas podem muito bem ser memórias, no meio de uma rotunda. basta de fundamentalismos urbanisticos ou lisboa será, cada vez mais, o caos que ja é.

Alexa disse...

Vasco Roxo:

Relativamente ao seu comentário, uma pequena precisão apenas, que nos ajuda a contextualizar melhor o problema existente...

O Arco de São Bento foi reconstruído na Praça de Espanha em 1998 (antigamente estava integrado na Galeria da Esperança do Aqueduto das Águas Livres, tendo sido desmontado do local de origem na rua de São Bento).
Não estava lá de origem, na Praça de Espanha, ok?

No caso dos Castelos das Portas de Benfica, a CRIL é que veio viciar o local onde estes existem desde 1886.

Mas, como diz, nós os que defendemos a preservação do nosso património, é que somos os fundamentalistas!...