sábado, 31 de março de 2012

Petiscos, iscas e tragédia na taberna.







Petiscos, iscas e tragédia na taberna


Por Maria Espírito Santo

Recuperar a taberna em Lisboa é o objectivo. Há queijos, enchidos e até tripas aos molhos na casa que guarda Eça nas entre linhas



Não há reservas: é chegar e procurar lugar vago – não fosse esta uma taberna à antiga. Ou então ir ao balcão para beber um copo sem esquecer as compotas e o azeite que falta lá em casa ou ainda a refeição que é pegar e largar. A Taberna da Rua das Flores, perto do Largo Camões, em Lisboa, é o novo espaço da velha guarda que faz questão de fazer tudo como noutros tempos.

“Quando as pessoas dizem ‘iscas só como as que a minha avó faz’, então pode comê-las aqui”, garante Bárbara Matos. Foi com Adriano Jordão e André Magalhães (do restaurante “Clube dos Jornalistas”) que fundou o restaurante/mercearia que faz agora um mês de portas abertas no número 103 da Rua das Flores. Há pratos para aconchegar bem o estômago ao almoço, vinho e cerveja exclusivos para acompanhar e queijinhos e enchidos para petiscar durante a tarde até à noite. As iscas e a meia desfeita são as estrelas do quadro de ardósia, encostado à porta de entrada. Mas também há outros exclusivos como as tripas à moda do Porto, prato incluído por Bárbara, com direito geográfico sobre a matéria.

Tanto no prato como nos mostruários só há produtos artesanais de pequenos produtores, coisas que dificilmente encontrará noutro lugar. Serve de exemplo a marca Granja dos Moinhos com compotas, queijos e até pesto artesanal. “É um projecto agrícola que pertence a um movimento slow-food. Faz produtos em regime biológico, tem o único chévre queijo cabra feito em Portugal artesanalmente”, explica André Magalhães. Nos pequenos armários pregados nas paredes também se destacam as garrafas ilustradas com um retrato antigo. O azeite Angélica é outro produto com história, de um jornalista que herdou um olival da avó e decidiu homenageá-la no azeite que agora comercializa. Nas prateleiras juntam-se também conservas, as sardinhas enlatadas Luças e o bacalhau Naval. Para beber os vinhos da região de Lisboa são os preferidos ou ainda outras novidades, como a cerveja artesanal Sovina.

Além das iscas e da meia desfeita, há sempre pratos novos com produtos do dia, como o peixe fresco. As refeições que se servem à hora de almoço estão na média dos seis euros enquanto que uma tábua de queijos ou enchidos para petiscar – onde não falta o pão fresco de Avintes – chega aos seis e meio.

Se já é tarde e quer algo mais prático, há solução que sirva a vontade a fazer jus à casa. Chama-se miomba e é coisa típica de taberna. “É um bife, carne do cachaço cortado muito fininho com bastante molho” satisfaz a curiosidade André Magalhães ao aproxima-se do largo tacho e mergulhar a concha no molho vermelho. A carne vai para dentro do pão e este para uma caixa de cartão recheada de batatas fritas: por quatro euros se faz uma refeição rápida pronta para levar. Para escorregar melhor um copo de vinho ou cerveja podem ajudar, ambos a um euro e meio.

a rua da tragédia Já foi uma barbearia, há mais de 50 anos, entretanto um depósito de uma farmácia. “Isto estava tudo forrado a prateleiras de madeira antiga e nós reconvertemos em móveis, balcões”, explica André Magalhães sobre a renovação que arrancou em Setembro passado.

Hoje, arrastar um banco de madeira e beber um copo de vinho ao som de acordes da guitarra portuguesa é sensação familiar em casa nova. A tragédia só cabe mesmo no nome. Exposto num mostruário está a primeira edição da “Tragédia da Rua das Flores”. A obra de Eça de Queiroz foi a inspiração para o nome da casa, também ela presa noutro século mas a servir bem neste.

Rua das Flores nº 103; de terça a sábado das 12h às 24h (por motivos logísticos a taberna está temporariamente fechada entre as 15h30 e as 18h30
jornal «i»

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