quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Tabacaria Mónaco, do Rossio: a visão da Arqueolojista.



















































































TABACARIA MÓNACO

No tempo em que se escrevia Cintra com C, foi inaugurada no Rocio (também era assim que se dizia) por Júlio Cruz, a Tabacaria Mónaco. Contam os ardentes folhetins da época que, só no dia da inauguração (1 de Agosto de 1894), se juntaram ali cerca de 4000 senhores de chapéu alto e bigode (mais que na abertura do próprio parlamento, o que não choca por aí além o português suave).

A pena dos jornalistas não fazia floreados sobre a efeméride, fazia autênticos bouquets que não resisto a copiar… Ora lê-de bem…

“A Mónaco abre hoje n’um pé de sumptuosidade que faz o seu parenthesis de luxo nesse arruamento esquerdo do Rocio.”

Era aqui (nesse parenthesis) que vinham, e vêm ainda, os que se dão à cavaqueira, depois da leitura dos jornais, enquanto fumam o tabaquinho, a cigarrilha e o bom charuto. Mas além da fama, a Casa Mónaco, era e é um sítio cheio de segredos (voltemos à deliciosa imprensa) …

“O tecto é um fresco de Ramalho, bordado num desses momentos azues do rien faire.”

Apesar da expressão ser francesa, eu cá desconfio que isso do rien faire só pode ser coisa inventada aqui na pátria. De facto, o tecto em abóbada mostra, ainda hoje, um belo lusco-fusco rasgado por andorinhas loucas, típico das tardes de Verão ali no Adamastor. Mas não se pense que o pintor António Ramalho foi o único personagem do famoso Grupo do Leão (e não é eufemismo para Sporting) que espalhou talento pela Mónaco, vejamos…

“Os azulejos são uma humurada de rãs fumistas.” Que é como quem diz, umas fábulas à La Bordallo Pinheiro (vindas directamente das Caldas), onde garças e rãs lêem jornais, dançam, brincam às touradas e fumam quase tudo. Também do Bordallo são as andorinhas nos fios telegráficos. Fios telegráficos?! Sim, há que dizer que a Mónaco tinha, para euforia da clientela mais sofisticada, um dos primeiros telefones ligado à rede geral…

Mas as pérolas continuam. Para além do busto do príncipe do Mónaco, há três estatuetas em cima do balcão. A mais curiosa fica no meio e retrata uma velhinha que leva na mão uma candeia (que antigamente tinha sempre uma chama para se acender o cigarro), acompanhada por um gatinho, cuja cauda é uma pequena guilhotina para se cortar o charuto… Disto, meus amigos, não se apanha no IKEA! E o melhor é que a Mónaco tem ainda uma bica (agora seca) que chorava águas de Cintra, de Caneças e de Moura, o que dava um jeitão quando não havia, entre nós, a arte da canalização.

Além desta caixinha de surpresas, podemos ainda encontrar o melhor da imprensa nacional e estrangeira, variados souvenirs e todos os acessórios inerentes ao vício do fumo (experiência, aliás, tão mística que até às pontas chamamos beatas). Para nos receber e bem, lá está o atencioso Sr. Carlos Oliveira (o patrão) e o Sr. Tomé Repas, sempre a sorrir atrás do balcão (que ainda se escreve com C, como nos bons velhos tempos).





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