domingo, 29 de agosto de 2010

Postais do Porto: as férias do Lisboa SOS.

Estivemos em viagem. Alguns dias no Norte entre Guimarães, Vila do Conde e o Porto. Mas, infelizmente, o país urbano muda pouco se olhado de perto. É verdade que a arquitectura média é genericamente melhor do Douro para cima. Não vimos nenhum arquitecto confundir a decoração de um bolo com a construção de uma igreja, como sucede no Alto do Restelo. Afinal todos pensávamos que pastelaria era uma coisa e arquitectura outra. Há também menos tiques revivalistas e arremedos pós-modernos nos edifícios, o que é um consolo para os olhos. Contudo, três constantes são quase intoleráveis: o desordenamento do território, o mau estado do património, e a presença de toxicodependentes a ocupar de forma ostensiva o espaço público. No Porto têm a encosta do Bairro da Sé só para eles. É uma autêntica catástrofe social, humana e, igualmente, um caso de polícia. Imaginem que aqui em Lisboa o antigo Casal Ventoso ficava entre a Rua da Madalena e a Sé, com todo um cortejo de miséria que não vemos hoje, sequer, na zona do Intendente.
O Porto precisa urgentemente de reabilitação e de um plano social. São muitas décadas de más políticas urbanas. O centro da cidade tem tanta falta habitantes como a Baixa de Lisboa. E mais do que tudo é preciso abrir o centro a outras classes sociais: a pobreza entra pelos olhos. A fractura entre a Foz e Miragaia ou a Sé não é digna de um país decente. Só em Nápoles encontrámos uma realidade semelhante. O casario dos Guindais lembra o falecido Casal Ventoso, de Lisboa. É quase uma favela pendurada na encosta, dada a extraordinária degradação dos edifícios. O caos urbano de Gaia faz-nos perguntar porque é que aquele município está tão endividado quando deve ter ganho muitos milhões só em licenças de construção.
No entanto, a cidade é magnífica. O Douro é magnífico. Até o «Portónico» que nos ajudou a combater o calor era magnífico. Tudo podia sê-lo ainda mais se não fossem as centenas de prédios devolutos, muitos em ruína, os graffitis e tags, a presença constante dos irritantes discos que as empresas que telecomunicações plantaram nas nossas cidades, a falta de habitantes, ou a catástrofe social que é a encosta do bairro da Sé e certas zonas de Miragaia (repetimos para que ninguém se esqueça).
Raras vezes tivemos medo em fotografar, mas no Bairro da Sé nem nos atravemos a sacar da máquina. Parecia uma versão pior do Quartieri Spagnolo napolitano. A subida para o Colégio de São Lourenço metia medo, tal como a passagem na Viela do Anjo ou na Rua do Pelames. E estes são apenas alguns dos nomes de ruas que agora, de repente, nos recordamos.
As fotos que seguem abaixo foram tiradas na Torre dos Clérigos.


































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