Desbravar caminhos pelos túneis da cidade
Reabriu um dos troços do Aqueduto do Loreto, ligando dois jardins
TELMA ROQUE
Reabriu um dos troços do Aqueduto do Loreto, ligando dois jardins
TELMA ROQUE
Descer às profundezas da terra no jardim do Príncipe Real e voltar à superfície no jardim de São Pedro de Alcântara pelo aqueduto do Loreto passou a ser possível desde ontem com a abertura do primeiro de outros troços que a Câmara quer dar a conhecer ao público.
A cidade desconhecida dos subterrâneos, dos mitos e das lendas, começou ontem a revelar-se, mas outros caminhos poderão ser desbravados pelos lisboetas nos próximos dois anos ao longo de 2,8 quilómetros de extensão, para chegar ao Largo de S. Carlos, Rato, Rua do Século e Praça da Alegria.
"Conhecer estes caminhos são sonhos de infância que povoam a nossa imaginação", sublinhou António Costa, presidente da Câmara de Lisboa, pouco antes de descer ao aqueduto do Loreto, no jardim do Príncipe Real, que ontem reabriu após profundas obras de requalificação.
A galeria do Loreto faz parte do Aqueduto das Águas Livres, e permitia abastecer de água importantes chafarizes da capital. O traçado desta galeria vai desde a Mãe d'Água das Amoreiras e termina no Largo de S. Carlos. Pelo meio, percorre as ruas da Escola Politécnica. D. Pedro V e Misericórdia, além de estabelecer uma ligação ao Reservatório da Patriarcal.
A revelação de uma cidade que poucos conhecem resulta de um protocolo assinado no ano passado entre a Câmara e a EPAL (Empresa Portuguesa das Águas Livres). Ontem, abriu apenas um troço de 410 metros, visitável três vezes por semana, por marcação. As obras de requalificação, a cargo da EPAL, contemplaram a recuperação da clarabóia e dos túneis e paredes. Procedeu-se, ainda, à instalação de iluminação ao longo do percurso.
Jorge de Mascarenhas Loureiro, administrador da EPAL, revelou ao JN que as obras custaram 79 mil euros, a que se somam mais 150 mil gastos no ano passado destinados a fazer face a uma empreitada de reforço estrutural do aqueduto do Loreto.
De acordo com o responsável, o próximo troço a abrir será o que faz a ligação entre a Patriarcal e o Largo do Rato, numa extensão de 600 metros, ou seja, ao longo da Rua da Escola Politécnica. "Gostávamos que abrisse já para o ano, a 22 de Março, Dia Mundial da Água", sublinhou.
O último troço a abrir, ao que tudo indica em 2012, será o que vai até ao Largo de S. Carlos. "Antes, teremos de fazer um reforço estrutural. É uma obra com alguma complexidade técnica", admitiu Mascarenhas Loureiro.
Aguadeiros e doceiras receberam, ontem, em São Pedro de Alcântara, os primeiros grupos de pessoas que percorreram os túneis do aqueduto, numa recriação histórica da cidade de outros tempos. No Príncipe Real, onde decorriam obras há seis meses, a reabertura do jardim foi também assinalada com animações e música, sem a polémica que marcou o andamento dos trabalhos (ler caixa de texto em baixo).
"Ao contrário do que foi anunciado, o jardim [do Príncipe Real] não foi destruído", defendeu António Costa, durante a cerimónia de reabertura daquele espaço, que ganhou um novo coberto vegetal, novas árvores, um parque infantil renovado e onde foi substituída a iluminação e o mobiliário urbano.
"Este é o jardim da minha vida", confessou publicamente o autarca, acrescentando que a ligação afectiva ao Príncipe Real deve-se ao facto de ali ter passado grande parte da sua infância, a jogar à bola (certa vez foi multado), a andar de bicicleta, a "arrancar a relva para fazer caldo verde" e até mesmo "a fazer coisas que não valem a pena estar aqui a dizer...".
(Jornal de Notícias).
Sem comentários:
Enviar um comentário