domingo, 28 de março de 2010

Capitólio: salvo da demolição.



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Começaram no Parque Mayer as obras de reabilitação do Cine-teatro Capitólio
Depois de ter estado para ser demolida, obra pioneira do modernismo português vai ter uma segunda vida. Trabalhos deverão ficar prontos dentro de dois anos

As obras de reabilitação do Cine-teatro Capitólio, no Parque Mayer, arrancaram na segunda-feira, estando neste momento em curso os trabalhos de demolição dos elementos que ao longo dos anos foram acrescentados ao projecto inicial do arquitecto Cristino da Silva, como o telhado.

Quando a recuperação tiver terminado, o que deverá acontecer daqui a dois anos, aquela que é uma obra pioneira do modernismo português estará maior, como uma nova fachada nas traseiras e voltará a contar com um terraço no topo, local onde decorrerão sessões de cinema ao ar livre. No interior do cine-teatro haverá dois palcos, que resgatarão o edifício a muitos anos de degradação. "Vamos recriar a relação com o espectador, que tanto poderá a assistir aos espectáculos dentro do edifício, como, nalguns casos, estando sentado cá fora, numa praça que vai ser criada ao lado do cine-teatro", explica o arquitecto que ganhou o concurso para a reabilitação, Alberto de Souza Oliveira. O contrário também será possível: estar dentro do edifício a assistir a um espectáculo que esteja a decorrer cá fora. Como? "Os envidraçados são móveis e permitem abrir a grande sala sobre o exterior, conferindo ao ambiente uma relação muito especial, ao jeito de esplanada coberta, em comunicação com as áreas ajardinadas envolventes", refere a memória descritiva do projecto.

Ecrãs nas traseiras

Souza Oliveira diz que procurou estabelecer um equilíbrio entre uma obra que Cristino da Silva criou depurada, numa integração na altura inovadora entre o betão e o vidro, e as suas necessidades de funcionamento no séc. XXI. O arquitecto quer que o Capitólio recupere o glamour que tinha em 1931, quando abriu. A ampliação da zona das traseiras, essa deriva da necessidade de resolver um problema do projecto inicial: a pouca profundidade do palco. É aqui que surge a maior inovação: a fachada das traseiras será composta por um quadriculado de ecrãs digitais, "apoiado numa tecnologia a cores de elevada definição".

Quanto à fachada principal, "apresentará a restituição do alçado de 1929 com o seu lanternim em vidro". Um lanternim que se suspeita ter sido desenhado não por Cristino da Silva mas por um amigo seu, o também arquitecto Pardal Monteiro.

Prestes a ser demolido há alguns anos, o velho Capitólio vai assim ganhar uma segunda vida. Quando foi construído, ignorava-se que o betão nele empregue não ia durar para sempre. As mazelas que foi contraindo ao longo do tempo vão obrigar a um minucioso trabalho, que passa pelo reforço quer dos principais pilares do cine-teatro quer das paredes. "Como sociedade não soubemos conservar até hoje esta peça de arquitectura de grande dimensão estética", critica Souza Oliveira. "A sua reabilitação fará surgir um público defensor desta e de outras obras do modernismo".

O vereador do Urbanismo da Câmara de Lisboa, Manuel Salgado, visita hoje o Capitólio, acompanhado pelos vereadores da Cultura e das Obras Municipais. Por decisão da autarquia o cineteatro passará no futuro a designar-se por Teatro Raul Solnado. Nesta empreitada vão ser gastos dez milhões de euros, provenientes das contrapartidas do Casino de Lisboa.

Por resolver continua, no entanto, o imbróglio do negócio em que a autarquia ficou com o Parque Mayer em troca da Feira Popular, e que agora quer desfazer. Se conseguir os seus intentos, deixará de ser proprietária do recinto da Av. da Liberdade, que voltará às mãos do grupo Bragaparques, com o Capitólio já recuperado, ou em vias disso. O presidente da câmara tem dito que, nesse caso, a solução será expropriar o Parque Mayer, invocando o interesse público.

(in Público).

1 comentário:

Julio Amorim disse...

Uma boa noticia a sua recuperação....mas mudar o nome é mera parvoice !!!!