quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Havia uma cidade e um rio.

Havia uma cidade que não tinha monumentos grandiosos, como Londres ou Roma, museus com quadros famosos, como Madrid ou Paris. Não era grande nem cosmopolita. Para animação cultural e outras coisas, havia na Europa cidades muito melhores do que ela. Mas essa cidade tinha uma coisa que mais nenhuma capital europeia tinha: o estuário de um rio que mais parecia um mar. A vista era deslumbrante. O rio era a alma daquela cidade, aquilo que a tornava única. O Manzanares, o Tamisa, o Sena eram todos muito pequenos, ridículos até, quando comparados com um Tejo assim:


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Mas decidiram fazer uma ponte...

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A cidade ficou assim. Acha que ficou bem? Acha que valeu a pena? Vai aceitar isto, sem fazer nada? Não pensa nos seus filhos ou netos? Não pensa em si?
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Era assim a cidade e o rio.
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Ficou assim.
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Para quê: mais carros, melhores acessos? Vale tudo, quando tudo se vai perder? Há um ponto no rio em que olhamos para o horizonte e quer nos viremos para nascente, quer para poente, só vemos uma linha no azul. Como se o mar tanto pudesse estar de um lado ou do outro. Como se a cidade não acabasse nunca. Esse horizonte dúplice vai ser destruído. A ponte vai «afundar» a cidade exactamente na zona-chave, no momento crucial em que o rio se abre e adquire grandeza e imensidão de perspectivas. Com o afundamento do rio, afundam-se também as suas margens e o que nela existe. O Panteão, São Vicente, o Castelo, o casario de Alfama, enfim, todo o recorte de Lisboa vai desaparecer. Isso não aconteceu com nenhuma das outras pontes. É preciso perceber isso. Antes que seja tarde. Esta não é uma questão de «impacto visual», para usar o jargão tecnocrático. É muito mais do que isso o que está em causa. Está em causa manter-se ou perder-se a característica que, na sua essência mais profunda, marca a personalidade de Lisboa.


Imagens retiradas do estudo realizado pela empresa TIS.

1 comentário:

Prozac disse...

E que tal irem buscar os renders oficiais que estão no site da RAVE para não dizerem disparates nem mostrarem imagens que não correspondem à verdade?

Sabiam que o serviço suburbano de comboios que se vai criar irá melhorar a mobilidade de Setubal a Lisboa? Que andar de comboio para o Alentejo e Algarve vai durar menos 30 minutos?

Concordo que não deveriam colocar o tabuleiro rodoviário mas existem muitas outras vantagens que surgirão com a nova ponte.