Pela Reprovação Global do
projecto de Loteamento Hospital Miguel Bombarda – nº 14/URB/2013, em Consulta e Discussão Pública de 1 a 12
de Julho, assim como dos projectos de Loteamento para os Hospitais de S. José,
Sta Marta e Capuchos.
Por pequeno aviso publicado num
jornal, soubemos que iriam para consulta e discussão pública entre 1 e 12 de
Julho no edifício do Campo Grande, 1F, quatro Projectos de Loteamento
(venda mais facilitada, por lote) para os Hospitais Miguel Bombarda, S. José,
Sta Marta e Capuchos, que deram entrada na Câmara Municipal de Lisboa em meados
de Junho, para aprovação. Durante a consulta desses volumosos projectos não
é permitido tirar fotocópias ou fotografias, dificultando seriamente a
interpretação, e obrigando a demorada cópia manual das partes mais relevantes.
Pela quantidade e importância de
edifícios que os projectos prevêm demolir ou transformar, estamos desde logo em
presença de uma das maiores intervenções urbanísticas de sempre realizadas na
zona histórica de Lisboa. Os projectos foram apresentados pela Estamo, empresa
do Ministério das Finanças, que há uns anos “comprou” esses hospitais, pedindo
empréstimos cujo montante serviu para encapotar o défice da Saúde …
Descrevemos a seguir as
principais intervenções contidas nesses projectos:
- Hospital Miguel Bombarda
Seria mantido e restaurado o Pavilhão de Segurança e o
pequeno Laboratório /Morgue, destinado a fins culturais não especificados (não
se refere o singular Museu existente, único na Península …); também mantido o
outro pequeno edifício classificado, de Interesse Publico, o Balneário D. Maria
II.
O Edifício Principal, o notável
e histórico Convento da Congregação da Missão de S. Vicente de Paulo
(1720-1740), que resistiu sem danos ao terramoto de 1755, onde se instalou em
1848 o primeiro hospital psiquiátrico do país, e que se conserva na quase
totalidade sem alterações (ao contrário do que afirma em sucessivos erros históricos
grosseiros o dito projecto, ignorando dezenas de documentos e as plantas de
1835 existentes no Arquivo Militar) será destinado a Hotel, com parque
subterrâneo e demolição dos interiores, à excepção das fachadas, da Igreja, do
salão nobre e do gabinete onde o Prof. Miguel Bombarda foi assassinado em 1910,
sendo integrado no Hotel o já referido Balneário…
Todos os outros edifícios seriam totalmente
demolidos, apesar do seu excepcional valor histórico e arquitectónico,
apesar de todo o Hospital ser Zona Especial de Proteção (Portaria nº 1176/2010
de 24 de Dezembro) e apesar de ter sido proposta a sua classificação em
Março último, em Candidatura apresentada à Direção Geral do Património, sustentada
em investigação irrefutável, subscrita pelas prestigiadas Sociedades de
Psiquiatria, de Neurologia, de Arte Terapia, de Arte Outsider, e pelos dois
mais distintos historiadores de arte do país, Prof. Raquel Henriques da Silva e
Prof. Vítor Serrão.
Assim, as demolições seriam
quase totais, abrangendo os interiores históricos do Convento (que
resistiu ao terramoto mas não resistiria ao vandalismo que assola Lisboa),
o Edifício de Enfermarias em poste telefónico (de 1885-1894), dos primeiros do
mundo, de um piso baseado em Esquirol e de racionalismo pré modernista, rodeado
de jardins, do arquitecto José Maria Nepomuceno, o Edifício de Enfermarias em U
(de 1900), vanguardista dos primeiros em betão, a Cozinha (de 1904), com tecto
futurista em ferro, o enorme, elegante e raríssimo Telheiro, para o Passeio dos
Doentes (1894), o Edifício das Oficinas para doentes, os painéis de 165
azulejos diferentes criados por doentes, o poço e o tanque da Quinta de
Rilhafoles, anteriores ao convento, com cerca de 500 anos, etc.
O Balneário, inaugurado pela
rainha D. Maria II em 1853, considerado na época e ainda hoje o melhor da
Europa, a primeira construção do país destinada a Psiquiatria, que conserva grande
parte dos equipamentos … integrado num reles Hotel sem identidade … que
conterá também o gabinete do Prof. Bombarda, o mais significativo testemunho
material da implantação da República, e constituirá uma infâmia para a
Congregação da Missão de S. Vicente de Paulo e para a Família Vicentina.
O que se pretende é escandaloso,
representa um Grave Atentado contra a Cultura Portuguesa e Europeia,
destruindo edifícios de excepcional valor histórico e arquitectónico, em termos
nacionais e internacionais, e apagando a Memória, da religiosidade, da Ciência
e das suas inovações e mestres, da vivência dos Doentes Mentais e da sua
criatividade artística e sofrimento.
E para quê? Para um Hotel sem identidade, para 4
lotes/prédios paralelos, outro prédio duplo junto à Gomes Freire, com seis torres de 8 pisos (que
depois subirão para 12, como é costume …), num condomínio desenquadrado e
hostil à zona, por onde será rasgada uma incrível e perigosa Rua para
viaturas, em zig zag com 6 curvas, 2 delas em cotovelo, que passará por baixo
de 4 prédios e irá do Conde Redondo até à Gomes Freire … um pavor!
O que propomos?
Dizer Não à destruição da Cultura e da Identidade de Lisboa, e criar no
belo espaço e edifícios do ex Hospital Miguel Bombarda, praticamente sem obras,
um Pólo Cultural de excelência, revitalizador da zona e da cidade, dinâmico
e rentável, aberto aos moradores, atração para turistas e visitantes (com
retoma do eléctrico Martim Moniz-Gomes Freire), que inclua um Museu alargado
dedicado à Arte de Doentes e de Autodidactas de todo o país, e à
História da Psiquiatria e das Ciências da Mente, desde logo com os
integrais arquivos médico e forense do Hospital, dos melhores da Europa, as
coleções de arte e de fotografia, com mais de 12000 exemplares (dos artistas
Jaime Fernandes, José Gomes, Valentim, do poeta Ângelo de Lima, e de tantos
outros), um centro de investigação, amplas exposições permanente (uma
delas dedicada à Congregação da Missão) e temporárias, conferências e
workshops, um ateliê de artes plásticas, espectáculos de música,
teatro e bailado, etc.
No Hospital de S. José, memória
do Hospital de Todos-os-Santos e símbolo da Medicina Portuguesa, não se indica
o destino do notável edifício, ex Colégio dos Jesuítas (deveria ser um Museu da
Saúde), dois novos prédios de 6 pisos prejudicam a leitura do Colégio/Hospital,
e tapam o Torreão de Sant’Ana, o maior da muralha Fernandina, de 1383. E sem
justificação é demolido o notável edifício do Instituto de Medicina Legal, do
arq. Leonel Gaia. No Hospital dos Capuchos só o estritamente
classificado é mantido, e eleva-se um silo de estacionamento no horizonte da
Igreja. E no Hospital de Sta
Marta com a sua bela Igreja e Claustros, instala-se outro Hotel, com
demolição do edifício da Cardiologia e construção de novos prédios. Em tudo,
parece quererem esquecer a História da Assistência, além de ser questionável o
encerramento de todos os hospitais do centro da cidade.
Sem prejuízo de outras ações,
apelamos aos cidadãos consciente para exercerem os seus direitos na Discussão,
sem medo, e a solicitaram ao Sr. Presidente da Câmara de Lisboa, Dr. António
Costa, até dia 12, a REPROVAÇÃO destes projectos, que terá de ser efectuada
em separado por Hospital e em impresso ou termos específicos.
Comissão para a Salvaguarda do
Património
contactar 933220913 / 217585085 / reginacarr@hotmail.com